terça-feira, 12 de julho de 2011

'A luz que, propagando-se sempre, jamais teria sido revelada...'

"(...) Já não se acredita tanto na possibilidade de agir sobre as situações, ou de reagir às situações, e no entanto, não se está de modo algum passivo, capta-se ou revela-se algo intolerável, insuportável, mesmo na vida mais cotidiana. (...) Como diz Robbe-Grillet, a descrição substituiu o objeto. Ora, quando se está assim diante de situações ópticas e sonoras puras, não é apenas a ação e portanto a narração que desmoronam, são as percepções e as afecções que mudam de natureza, porque passam para um sistema inteiramente diferente do sistema sensório-motor próprio ao cinema 'clássico'. E mais, já não é o mesmo tipo de espaço: o espaço, tendo perdido suas conexões motoras, torna-se um espaço desconectado ou esvaziado. (...) Uma imagem nunca está só. O que conta é a relação entre imagens. Ora, quando a percepção se torna puramente óptica e sonora, com o que entra ela em relação, já que não é mais com a ação? A imagem atual, cortada de seu prolongamento motor, entra em relação com uma imagem virtual, uma imagem mental ou em espelho."

"O olho já está nas coisas, ele faz parte da imagem, ele é a visibilidade da imagem. (...) A imagem é luminosa ou visível nela mesma, ela só precisa de uma 'tela negra' que a impeça de se mover em todos os sentidos com as outras imagens, que impeça a luz de se difundir, de se propagar em todas as direções, que reflita e refrate a luz. 'A luz que, propagando-se sempre, jamais teria sido revelada...' O olho não é a câmera, é a tela. Quanto à câmera, com todas as suas funções proposicionais, é antes um terceiro olho, o olho do espírito."

(Gilles Deleuze)

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